Discórdia, poder e silêncio na Igreja do Sertão


Abrangendo, além da cidade-sede, os municípios de Quixeramobim, Itatira, Boa Viagem, Madalena, Choró, Itapiúna, Quixeramobim, Capistrano, Ibaretama e Banabuiú, a Diocese de Quixadá surgiu em 1971 cobrindo população estimada em mais de 300 mil habitantes. Nos seus 38 anos de existência, conviveu pacificamente com os mistérios e a beleza da região, cedendo o lugar da fantasia para monumentos naturais como a Pedra da Galinha Choca e as rochas que entornam o Cedro.

Nos últimos meses, porém, esse cenário mudou, ganhou ares de tensão com o conflito envolvendo o atual bispo, Ângelo Pignoli, e o seu antecessor, dom Adélio Tomasin. No centro da discórdia, a disputa permeada por fatos concretos como as decisões tomadas por dom Ângelo mudando os comandos da Rádio Cultura e do Hospital Maternidade Jesus, Maria e José; a troca de religiosos entre as paróquias e a venda de imóveis do patrimônio da diocese. Para além dos fatos concretos, a discórdia tem sido alimentada por versões as mais diversas, envolvendo desde a utilização política da diocese a dívidas acumuladas das instituições pertencentes a ela. Uma das versões aponta que dom Ângelo teria tentado afastar parte da diretoria da Faculdade, que tem hoje como diretor-geral, José Nilson Ferreira Gomes Filho, considerado braço direito de dom Adélio . José Nilson foi candidato a prefeito nas duas últimas eleições, pelo PSDB, e recebeu forte apoio de dom Adélio e da estrutura da Faculdade.

O que tem deixado partidários dos dois lados sem uma explicação clara é porque só agora o atual bispo resolveu tomar essa decisão. Dom Ângelo chegou a Quixadá em março de 2007 em substituição a dom Adélio. Um de seus primeiros decretos foi a nomeação de dom Adélio como chanceler da Faculdade Católica Rainha do Sertão. Na ocasião, declarou que contaria com a ajuda dele porque não tinha muito conhecimento em gestão do tipo. A Faculdade foi montada em 2004 com a maioria dos recursos oriundos da Itália, trazidos pelo ex-bispo.

Auditoria
Nos dois primeiros anos, a relação entre dom Ângelo e dom Adélio se deu de forma tranquila. Em outubro deste ano, no entanto, em conversa reservada, o atual bispo informou ao antecessor que iria fazer uma auditoria na Faculdade, além de querer assumir a administração daquela unidade de ensino. Desde a criação, o diretor geral é José Nilson Ferreira Gomes Filho.

A conversa reservada se tornou pública em novembro quando pessoas ligadas a dom Adélio começaram a propagar a versão de que ele estaria pensando em deixar a cidade em virtude do fato. Desde então, teve início um racha na diocese com leigos próximos ao ex-bispo criando o ``Movimento Fica Dom Adélio e em Defesa da Diocese de Quixadá``, conclamando as pessoas a se colocarem contra as decisões do atual bispo. Carreatas, distribuição de adesivos e reuniões de apoio fizeram o movimento ganhar corpo. Para agitar o clima entre os dois lados, dom Ângelo denunciou que estaria recebendo ameaças de morte. Não disse de quem.

Enquanto partidários de dom Adélio alardeiam a defesa do religioso, ele próprio tem se esquivado de falar a respeito. O mesmo acontece com dom Ângelo, que até agora tem se apoiado em uma carta publicada dia 23 de novembro no site da diocese tentando dar luz às suas decisões. O silêncio dos dois é seguido pelos demais religiosos, que estariam desautorizados a emitir qualquer opinião sobre o assunto.


FRASES

TRECHOS DA CARTA DE DOM ANGELO
...Cheguei à convicção de não ser possível conseguir visão clara e fundamentada da realidade da Faculdade, apenas através de eventuais contatos e relatórios. Precisamos de algo mais amplo``

..é incompreensível e surpreendente a celeuma que imediatamente se criou, o barulho que se fez, usando de falsidades, calúnias ou meias-verdades, querendo jogar a autoridade maior e legítima do Pastor da Diocese contra seus padres, o Bispo emérito e a Faculdade Católica..``

...faço um veemente apelo a que nenhum partido e nenhum político interfiram indevidamente nos assuntos reservados à autoridade diocesana de Quixadá...``



Jornal O Povo

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